Alguns aprenderam cedo que ser “tranquilo” era a única forma de permanecer perto. Não reclamar, não pedir, não chorar. Engolir o incômodo, rir do que machuca e se adaptar a qualquer situação para não perder o vínculo.
Esse tipo de calma é, na verdade, um modo de sobrevivência. O corpo aprende a conter para evitar o caos. A mente se acostuma a prever reações, a medir palavras, a cuidar do clima antes de cuidar de si. O preço é alto: a pessoa vai sumindo aos poucos, até deixar de saber o que sente ou precisa.
Na vida adulta, isso costuma aparecer em quem evita conflito a qualquer custo. Gente que pede desculpa por tudo, que sente culpa por ocupar espaço, que concorda para não desagradar. Por fora, parece serenidade. Por dentro, um medo constante de reviver o desamparo que um dia foi real.
Em terapia, é comum ouvir: "Eu não sei o que eu quero.” ou “Eu evito brigar, mas fico com raiva de mim depois.”
Essas frases revelam a dor de quem aprendeu que amor e submissão andavam juntos. Que ser amado significava ser conveniente.
A psicoterapia ajuda a desmontar esse tipo de crença. Com delicadeza, o paciente começa a perceber que existe um espaço possível entre o caos e o silêncio: o espaço da autenticidade. Ali, o afeto não depende da anulação. Ele nasce do encontro entre duas presenças inteiras (e imperfeitas), mas verdadeiras.
Reaprender a incomodar um pouco é, muitas vezes, o primeiro passo para voltar a existir por inteiro.
E essa é uma das formas mais bonitas de cura: quando o medo de perder é substituído pela coragem de se manter.